Este texto faz parte da cobertura literária que estou fazendo da Bienal do Livro Rio 2025. Confira os outros textos já publicados aqui na News.
Um dos pontos altos dos eventos literários é a possibilidade de conhecer pessoas que vemos apenas de longe, e que graças ao digital somos quase íntimos. Nos últimos dias já tive a oportunidade de conhecer e abraçar ex-professores meus do mundo do livro, autores, editores, influenciadores, reencontrei amigos, conheci gente nova... enfim, como eu já disse aqui, a Bienal é sobre pessoas. Faço um adendo às minhas próprias palavras e acrescento que a Bienal é sobre afetos.
Me recordo que em uma das primeiras que fui consegui ver de longe o Ziraldo. Nunca cheguei a falar com ele, mas estar no mesmo espaço que um dos artistas mais importantes da nossa história é o tipo de coisa que esse evento nos proporciona.
Já acrescento aqui que se você estiver na Bienal e encontrar um escritor, influenciador, ou qualquer outro profissional que admira, não tenha medo de ir lá falar com ele. Eu garanto que a maioria ficará mais do que feliz em conversar com você e tirar uma foto.
E assim eu o fiz. Nessa Bienal pude trocar uma ideia com um editor de livros cujo trabalho conheço há muito tempo, o Daniel Lameira, que também é o criador do Vida do Livro, o primeiro curso que fiz sobre o mercado editorial e que deu a base de tudo o que estudei a partir daí.
Além disso, o Dani já passou por editoras com Aleph e Leya, ajudou a fundar a incrível Antofágica e hoje é o responsável pela Seiva, que na definição do próprio site é “uma pequena escola, editora e comunidade criativa onde se acredita que a arte é para todos.”
A Seiva e várias outras editoras que jamais haviam participado da Bienal se uniram para criar o estande Compiladas, que vai reunir 20 casas editoriais pequenas e médias de várias partes do Brasil para participarem juntas do evento. Já visitei o espaço e devo dizer, está bem bonito e com uma seleção de livros belíssima. Confira você mesmo, no Pavilhão 4, ruas U54 e V53.
Com muita disposição e boa vontade, o Dani aceitou responder a algumas perguntas que eu trago aqui para vocês. Espero que curtam!
Então, para começar, eu queria que você se apresentasse.
Daniel: Eu sou o Daniel Lameira, sou editor da Seiva e organizador do curso Vida do Livro.
De quantas bienais você já participou, sabe dizer?
Daniel: Hoje eu estava tentando contar, mas profissionalmente, não com estande, mas indo com essa atenção de pessoa que está trabalhando com livro, acho que foram 15 ou 17, uma coisa assim.
Contando Rio e São Paulo?
Daniel: Contando Rio e São Paulo, sim.
E essa é a primeira bienal da Seiva?
Daniel: Essa é a primeira bienal da Seiva e é muito emocionante.
Conta para a gente então o que é a Seiva e qual a importância para uma editora estar participando de um evento como a Bienal do Livro.
Daniel: A Seiva é uma editora, um ecossistema sobre arte e criatividade, onde a gente publica livros que a gente tenta dar ferramentas emocionais e técnicas para as pessoas conseguirem se dedicar a criar o que elas desejam na vida. Principalmente na área artística, mas também como forma de se autoconhecer. E a gente tem seis livros, é uma marca recente, tem um ano e alguns meses. E vir para a Bienal, para a Seiva, eu acho que ainda estou entendendo o que significa, sabe? Porque são tantos anos vindo, eu já vim com outras editoras nas quais eu estava trabalhando, seja Intrínseca, Aleph, Antofágica, na Leya. Mas vir agora com a editora que eu criei, né? Isso é diferente, ainda não consegui ter tempo, acho que vai demorar um tempinho para eu entender o que significa. Mas acho que a coisa mais significativa que eu vejo acontecendo aqui nesse estande, na verdade, é essa ideia de uma organização coletiva de editoras que se juntaram para vir, 20 editoras pela primeira vez juntas na Bienal. Então isso, assim, é o clima que está aqui no estande entre a gente, é de muito orgulho de ter tido uma organização autônoma e bonita, sabe? Para fazer algo acontecer.
Você é o criador do curso Vida do Livro, que foi o primeiro curso que eu fiz dentro da área editorial.
Dani: Que demais!
E aí, pensando nisso, você fala que o curso Vida do Livro tem uma proposta de apresentar o universo da criação de um livro, tanto para pessoas da área, mas principalmente para pessoas que não são desse meio. Você acha que a ideia do curso e o próprio conceito da Seiva dialogam no sentido de estimular a criatividade, de repente estimular até mesmo o profissionalismo nas áreas de atuação de vocês?
Nesse momento nosso bate-papo foi brevemente interrompido pela chegada do editor Cassius Medauar, Publisher da JBC, editora de quadrinhos. Cassius foi um dos responsáveis por trazer ao Brasil títulos como Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco. Currículo leve, né?
A Seiva e o Vida do Livro, tem esse ideal de criação, de estimular. E eu acho que o mercado editorial ainda carece de mais formação de profissionais, muita gente cai nele de paraquedas. A editora e o curso dialogam nesse sentido?
Daniel: Cara, quando você começou a fazer a pergunta acho foi a primeira vez que eu pensei, até antes de você fazer a parte propositiva dela, de linkar as duas coisas… eu comecei a pensar que o Vida do Livro faz parte disso. Talvez de uma protovontade, até não conscientemente durante o processo, de discutir o processo criativo. Acho que eu estava começando, tinha trabalhado em livraria, estava aprendendo a fazer os livros, começando a colocar livros na rua que eu me orgulhava, e eu queria falar sobre o que eu estava vivendo ali, de “pow, olha que legal que é, contratar um livro, como que é fazer uma capa, qual a lógica financeira por trás disso, né?”. Então ali acho que já estava esse germe de uma vontade de dividir com as pessoas e acho que é o que empolga as pessoas no final das contas, ver o livro como um resultado de um processo criativo de diversas pessoas que se encontram pelo caminho.
Eu fui percebendo isso no meu próprio processo editorial, principalmente com a Antofágica, com a Aleph, de ir vendo que eu tinha um caminho autoral no meu jeito de escolher o que eu estava fazendo. E aí a Seiva é uma continuidade dessa minha pesquisa pessoal de... Então beleza, a partir do momento que eu entendi que é isso e que na minha vida eu comecei a fazer outras coisas, pintar, fazer animação… de onde vem isso? Por que eu me sinto tão encantado por isso? Como que eu divido isso com outras pessoas para elas prestarem atenção sobre o próprio processo criativo? Então a Seiva foi uma forma que eu achei de continuar com isso. Continuo muito interessado por fazer livros, etc, mas nesse outro campo de interesse que eu adquiri na vida e com a Seiva eu comecei a perceber que muita gente quer falar sobre isso e talvez não tivesse esse espaço para ter essa conversa.
Tudo é um processo de investigação de certa forma?
Daniel: É. Eu vejo que quando a gente decide se dedicar profissionalmente a algo que move a gente – porque tem a opção de você fazer algo que não está relacionado a isso, mas a maioria das pessoas que trabalham com livro não são assim, né? O livro realmente é algo marcante. Então você vai evoluindo como ser humano e como profissional, e essas coisas se entrelaçam, e a partir do momento que você vai conhecendo mais sobre você mesmo, conforme os anos vão passando, você vai descobrindo formas novas e desafios novos que você quer fazer, porque o fazer e o ser acabam sendo a mesma coisa em muitas esferas. Então eu acho que sim e acho que perceber isso aos poucos foram momentos de muita felicidade e percepção da realidade.
Para encerrar, deixa seus contatos, para quem quiser procurar a Seiva ou você.
Eu estou no Instagram Daniel Lameira, e a Seiva, com três S's. A gente tem várias aulas gratuitas, tem a newsletter que é uma queridinha nossa, que é uma newsletter diária sobre arte e criatividade que a gente manda, a Aurora. Tem um podcast que eu entrevisto pessoas sobre criatividade, se chama Clareira. Então se a pessoa quiser ir, ela pode achar onde eu estou me debatendo comigo mesmo nesse processo de criar e investigar o que a gente faz nessa vida.
O fazer e o ser acabam sendo a mesma coisa em muitas esferas.
Esse foi um papo com um dos editores mais importantes do país, e eu espero de coração que a leitura tenha sido proveitosa. Falar de livros, de criatividade, de criação, é realmente algo que impulsiona gente, e mesmo essa news aqui nasceu desse desejo. Que possamos sempre alimentar o nosso impulso criativo, e, como diz o slogan da Seiva, ter Coragem para criar.
Coloquei alguns links ao longo do texto, mas segue tudo organizadinho para você seguir:
Essa é a primeira entrevista com profissionais do mercado editorial que trago aqui na news, mas aviso que outras já estão gravadas. Então aguardem, pois tem MUITA novidade chegando por aqui. Não perca nada se inscrevendo no botão abaixo, pois assim você receberá tudo direto no seu e-mail. E se puder, clica no coração, compartilha esse texto com alguém que vá curtir e deixa um comentário.
Obrigado por ter chegado até aqui. Até a próxima!
Muito boa entrevista!
Sou fã dos dois!